As sete palavras de Jesus Cristo na cruz
Os Evangelhos levam-nos a analisar sete palavras que Jesus, sofrendo e morrendo, pronunciou quando foi pregado na cruz do Calvário. São sete palavras, sete frases curtas que devemos meditar para saber quem é Jesus e qual é o significado da sua morte. Elas são de extrema importância e por isso devemos meditar nelas com a nossa maior atenção e com profundo respeito.
Os Evangelhos levam-nos a analisar sete palavras que Jesus, sofrendo e morrendo, pronunciou quando foi pregado na cruz do Calvário. São sete palavras, sete frases curtas que devemos meditar para saber quem é Jesus e qual é o significado da sua morte. Elas são de extrema importância e por isso devemos meditar nelas com a nossa maior atenção e com profundo respeito.
A primeira palavra
«Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem» (Lucas 23:33-34)
Estas primeiras palavras são uma oração, uma intercessão.
Jesus Cristo, santo e justo, o Filho de Deus, o rei de Israel, encontrou neste mundo corrompido pelo pecado, autoridades injustas o suficiente para o condenar à tortura da cruz enquanto ele proclamava a sua inocência (Lucas 23:4, 14:22; João 18:38; 19:4,6).
Rejeitado pelo Seu povo, abandonado pelos Seus discípulos, os pregos trespassam as Suas mãos e os Seus pés. Ele acaba de ser crucificado e todos os homens gozam d’Ele. Da Sua boca santa não sai nenhuma reclamação, nenhum protesto, nenhuma ameaça apesar do sofrimento atroz da crucificação.
A graça brota dos Seus lábios: o Salvador busca o perdão do Seu Pai em favor do povo judeu responsável e de todos os homens que mereceriam um julgamento imediato por terem tratado daquele modo o Filho de Deus.
Tal pecado não poderia permanecer impune pela justiça de Deus, o Pai do Senhor Jesus; mas Este pediu perdão ao Seu Pai, permitindo aos culpados evitar uma punição imediata e dar-lhes a oportunidade de confessar os seus pecados e receber a salvação pela fé: Jesus mitigou a gravidade do pecado n’Ele atribuindo-lhe o caráter de pecado cometido por ignorância dos homens («eles não sabem o que fazem» Lucas 23:33-34) quem sozinho poderia ser perdoado sob a Lei (Deuteronómio 19: 11-13). O pecado voluntário, cometido por orgulho, pelo contrário, conduziu à condenação, à morte imediata.
Os sofrimentos da cruz revelam-nos a extensão da graça divina e a plenitude do grande e magnífico amor da parte do Salvador.
A maravilhosa resposta a esta intercessão de Cristo será o chamado de Pedro cinquenta dias depois aos judeus de Jerusalém: «E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos príncipes?» (Atos 3:17). Muitos milhares de pessoas aceitaram as boas novas da salvação através de Jesus Cristo e foram perdoadas.
Através desta oração, Jesus age de acordo com o Seu Evangelho acerca de como amar os inimigos. Entendemos, então, que o cristianismo é muito mais que uma moral: é uma vida que ama e que se dá. Se por um lado a crucificação de Jesus mostrou toda a maldade humana, por outro revelou a imensidão do amor divino: o amor do Pai que dá o Filho para a salvação de todos os que creem n’Ele, o amor do Filho que voluntariamente se entrega pelos culpados. Recusaríamos nós tal presente?
A segunda palavra
«Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso» (Lucas 23:43)
A segunda palavra de Jesus na cruz é uma promessa de salvação feita pelo juiz supremo a um condenado. Jesus não o perdoou temporariamente, mas deu-lhe a paz eterna; não lhe deu uma vida continuada na terra, mas o reino de Deus e a ressurreição para viver uma nova vida no céu.
Que cenário! Três cruzes postas sobre o monte do Calvário com três condenados. Jesus Cristo o justo, o santo, está ali sobre a cruz de madeira, no meio de dois criminosos crucificados como Ele.
No início, os dois criminosos insultavam o seu companheiro de sofrimento, Jesus (Mateus 27:44; Marcos 15:32), mas rapidamente o cenário muda, distinguindo-se duas categorias de pessoas que aparecem. Estes dois criminosos representam toda a humanidade culpada mas dividida em dois, aqueles que pela fé vêm a crer em Jesus Cristo e aqueles que permanecem no seu pecado.
Um dos malfeitores permanece no seu triste estado de perdição e continua a insultar o Filho de Deus.
Mas o outro criminoso muda a sua atitude. Afetado pela sua consciência e pela graça do Salvador, ele vê o quanto pecou e repreende a maldade do seu companheiro. Reconhecendo a sua própria culpa, proclama a justiça do castigo que os dois suportam e reconhece a inocência do Senhor homenageando a Sua retidão: «recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez» (Lucas 23:41).
Neste momento crucial, ele volta-se inteiramente para Jesus Cristo dizendo: «Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino» (Lucas 23:42). Pela fé, ele chama esse homem crucificado de "Senhor" e pede que ele se lembre dele; pela fé ele sabe que o reino do Senhor virá. Esquecendo os seus próprios males e tudo o que o rodeia, ele vê os sofrimentos de Cristo e as glórias que se seguirão.
A resposta é imediata e a promessa é certa: «Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso» (Lucas 23:43).
Nenhuma fase transitória, nenhum julgamento a esperar, o criminoso condenado pelos homens é então perdoado por Deus. Ele é perdoado porque Jesus ia redimir as suas faltas diante de Deus. Jesus ocupou diante de Deus, por amor, na cruz, o lugar do pecador miserável condenado à morte.
O criminoso convertido recebe a garantia de que irá compartilhar, no mesmo dia, o lugar abençoado do Salvador no paraíso. Futuro maravilhoso que será compartilhado por todos aqueles que depositaram a sua confiança em Cristo!
Jesus Cristo é o Salvador das vidas arruinadas pelo mal, pelo pecado. Não podemos desesperar por causa do mal que fizemos. Jesus é poderoso para salvar ainda hoje. Ele experimentou a maior humilhação, a humilhação mais profunda, a morte vergonhosa da cruz, para nos dar a conhecer o amor do Seu Pai para toda a eternidade!
A graça de Deus fez uma obra maravilhosa no coração desse malfeitor:
Ao responder ao apelo do criminoso, os pensamentos de Jesus Cristo elevam-se para este lugar de segurança onde Deus o ergueria (Salmo 69:29). Mesmo antes do dia terminar.
Hoje: que prontidão!
Tu serás: que certeza!
Comigo: que companhia!
No paraíso: que descanso!
A terceira palavra
«Mulher, eis aí o teu filho» e «Eis aí tua mãe» (João 19:26-27)
Na sua primeira palavra na cruz, Jesus pede o perdão para aqueles que o crucificaram.
Na segunda, ele transforma, por sua graça, um criminoso num dos seus companheiros no céu.
Na terceira, ele confia carinhosamente a sua mãe, provavelmente viúva, ao seu discípulo João.
Como não ser tocado pelo cuidado e carinho que Jesus, apesar de seu crescente sofrimento, mostrou à mãe? Que delicadeza apesar do ódio ao seu redor! Mas também que dignidade, pois Jesus continua o Senhor de sua mãe assim como do seu discípulo. Apesar de Jesus estar em sofrimento e a morrer, ele não depende da bondade da sua família. Pelo contrário trata-se de um filho amoroso que tem em conta as necessidades futuras de sua mãe.
Jesus falou estas palavras antes das três horas de trevas e de abandono por parte de Deus. Mesmo os laços mais legítimos na terra, como a ligação de um filho com a mãe, seriam quebrados. Era necessário que Jesus estivesse sozinho no lugar onde Deus julgaria o pecado do mundo.
É na companhia dos discípulos de Jesus que Maria encontrará um doce consolo, depois de tantas dores que lhe haviam sido premeditadas (Lucas 2:35).
Depois de Jesus ressuscitar e ser elevado ao céu, nós a vemos como uma crente que, juntamente com os apóstolos, perseverava em oração e súplicas pela vinda do Espírito Santo (Atos 1:14, Joel 2:28-32).
Esta palavra estabelece um vínculo divino entre Maria, a mãe de Jesus, e João, o seu discípulo amado. É também a expressão do elo doce e poderoso que une todos os redimidos do Senhor, um “amor no Espírito" do qual encontramos belas ilustrações no Novo Testamento, um elo espiritual e inalterável. Os crentes formam uma família, um novo povo.
Esta terceira palavra de Jesus na cruz salienta o amor, a fidelidade e a ternura de Jesus. É também a palavra do Salvador que dará a vida por aqueles que acreditam.
A quarta palavra (a palavra central)
«Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?» (Mateus 27:46 e Marcos 15:34)
Não podemos abordar esta quarta palavra de Jesus crucificado sem que haja um profundo respeito. É uma palavra de uma importância real e de uma densidade imensa que permanece incompreensível para nós.
Por que Jesus Cristo, o Filho de Deus, sendo «santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores» (Hebreus 7:26), «que não cometeu pecado» (1 Pedro 2:22) e em quem «não há pecado» (1 João 3: 5) sofre e é abandonado por Deus? O único homem perfeitamente correto e unido ao Seu pai por uma comunhão permanente.
Desde o meio-dia, é noite em Jerusalém! A escuridão sobrenatural cobriu o país. Os homens pararam de zombar e de proferir insultos e são postos de lado. Deus afasta o Seu Filho do olhar dos homens. Ninguém poderá jamais entrar na aflição de Jesus durante estas três horas de trevas. Cristo sofreu sob a mão de Deus por causa dos nossos pecados. Embora o próprio Senhor Jesus não fosse culpado do pecado, ele carregou os nossos pecados sobre ele. Ele assumiu voluntariamente os nossos erros e concordou em sofrer o castigo que nós merecíamos. Por amor, ele identificou-se connosco enquanto pecadores. Sem estas horas de expiação, ninguém poderia ser salvo.
Este é o tema de adoração eterna para todos os crentes! Foi por ti e por mim que ele foi abandonado por Deus na cruz. Ele foi abandonado porque Ele «o fez pecado por nós» (2 Coríntios 5:21), porque ele fez-se «maldição por nós» (Gálatas 3:13).
Profeticamente anunciado no Salmo 22:1. Ele está na cruz, sem resposta, sem descanso e sem amparo, preso a todas as dores.
Ele sofre a eternidade do NOSSO castigo, sob o peso esmagador dos NOSSOS pecados. Um julgamento que é proporcional à santidade inflexível de Deus que teve de punir o pecado.
Na cruz, Deus deu a medida completa do que Ele é:
Em perfeita justiça contra o pecado.
Em perfeito amor para com o pecador.
A quinta palavra
«Tenho sede» (João 19:28)
Na quinta palavra da cruz, depois de três horas de abandono, Jesus pede para beber. A sede é um dos tormentos físicos do sofrimento da cruz.
As Suas feridas, a Sua luta moral, fazem com que Ele sofra de uma sede incandescente. Mas não é por isso que Ele diz: «Tenho sede». Na cruz, como em toda a Sua vida, Jesus sempre fez a vontade de Deus. Apesar do intenso sofrimento, está escrito «Tenho sede» porque as Sagradas Escrituras anunciaram com antecedência: «Na minha sede me deram a beber vinagre» (Salmos 69:21). Ele teve que cumprir esta Escritura.
Mas podemos pensar que esta palavra de Jesus também tem um significado espiritual. Finalizada a sua obra, Jesus olha para a frente. A Sua sede evoca o intenso desejo pela alegria da presença de Deus (Salmos 63:1). A Sua sede é um sinal da iminência do reino, onde Ele experimentará a plena comunhão de Seu Pai e dos Seus.
Ele disse «Tenho sede» para tornar-se, para todos aqueles que confiam nele, a fonte de água viva. Ele prepara a água viva da salvação que será dada ao mundo (João 4:14).
O Senhor glorificado sacia agora os seus. Ele é a rocha batida da qual brota a água espiritual de que precisamos todos os dias enquanto atravessamos o deserto deste mundo. Somente Ele possui e dá a água da vida que tira a sede para sempre (João 4:11,14).
A Sua voz vitoriosa fala-nos do alto do céu no final das Sagradas Escrituras:
«A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida» (Apocalipse 21: 6)
«E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida» (Apocalipse 22:17)
A sexta palavra
«Está consumado» (João 19:30)
As três horas de trevas terminaram. Num último gesto de obediência, Jesus acabou de beber vinagre; está escrito então: «Está consumado». A Sua missão na terra está a chegar ao fim. Quando ele chegou, ele pôde dizer: «Eis aqui venho para fazer, ó Deus, a tua vontade» (Hebreus 10: 7). Agora Ele terminou tudo o que o Pai lhe havia dado a fazer (João 17: 4). Jesus glorificou perfeitamente a Deus.
Todos os crentes podem dizer: «o Filho de Deus (…) se entregou a si mesmo por mim» (Gálatas 2:20). Tudo deriva do valor da cruz: a salvação de cada crente, a formação da Igreja, o acesso ao Pai, o estabelecimento de novos céus e de uma nova terra «em que habita a justiça» (2 Pedro 3:13). Tudo descansa na morte de Jesus.
Esta sexta palavra é como a assinatura que Cristo coloca no texto do que Ele fez. Uma palavra derivada do grego: "tetelestai"! Foram encontrados papiros onde as notas apareciam com a palavra "tetelestai" escrita para indicar que a dívida estava totalmente paga.
A obra de Jesus na cruz é perfeita e acabada, não há "nada a acrescentar, nem nada para remover". A nossa confiança na nossa salvação eterna não pode descansar nas nossas ações, nem nos nossos méritos, nem em qualquer coisa que vem de nós mesmos, mas simplesmente no sacrifício de Jesus Cristo, perfeito, completo e aceite por Deus.
Enquanto todas as religiões dos homens dizem "faça obras", Jesus proclama diante do mundo inteiro: «Está consumado» (João 19:30). «Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai» (João 16:28). No meio deste notável e admirável versículo, está escrito a obra da cruz que Ele realizou, um trabalho perfeito e imortal.
Esta palavra concisa e magnífica ressoa como um grito de vitória através dos séculos até à eternidade.
Na cruz, Deus «nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós» (Romanos 8:32) «Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave» (Efésios 5: 2). «A oferta do corpo de Jesus Cristo», o santo mártir, foi «oferecido uma vez por todas» (Hebreus 10:10).
A sétima palavra
«Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lucas 23:46)
Esta última palavra de Jesus na cruz evoca toda a intimidade do amor e da comunhão encontrada entre Jesus e o Seu Pai. Tal como antes das três horas de trevas, Jesus disse novamente: "Pai".
A expiação é cumprida, a questão dos nossos pecados é resolvida. Em perfeita paz, em plena consciência, Ele deixará então a sua vida, dará sua vida. Tendo baixado a cabeça, Ele entrega o Seu espírito de volta ao Pai. Este é o ato final do Seu sacrifício voluntário. Ele próprio separou o espírito do Seu corpo e o entregou a Deus, Seu Pai.
Muitas vezes o Novo Testamento nos diz que Jesus se entregou a si mesmo (Gálatas 2:20, Efésios 5:2,25, Tito 2:14).
Todas estas expressões fazem brilhar a grandeza e o amor d’Aquele que deu a Sua vida. Ninguém tinha o poder de a tirar d’Ele (João 10:18), mas Ele ofereceu-a para que pudéssemos receber uma nova vida espiritual, confiando n’Ele.
O grande clamor do Senhor (Mateus 27:50, Marcos 15:37), «com grande voz» (Lucas 23:46), testifica toda a força e toda a energia que o Senhor preservou através dos Seus tormentos e sofrimentos. A morte do Salvador foi voluntária.
Jesus enfrenta a morte, pacificamente, como um conquistador, sabendo que Deus ressuscitará o Seu corpo (Atos 2:27). Ele destruiu por sua morte o poder do diabo que nos assustava (Hebreus 2:14). Para obter esta vitória, Ele teve de passar pela morte (que, de acordo com Romanos 6:23, é «o salário do pecado» que o Senhor tomou sobre ele) e sair dela pela ressurreição.
A sétima palavra anuncia o descanso da nova criação. O pecado e o mal são vencidos na cruz. Assim como o sétimo dia da criação foi o dia de descanso e satisfação para Deus, a sétima palavra da cruz leva o Senhor para o lugar de descanso, isto é, para as mãos do Pai. Seguindo Jesus, nós também podemos nos entregar pacificamente a nosso Deus e Pai antes da morte.
Esta oração é também a expressão final da sua vida de obediência, submissão e dependência de sua humanidade perfeita. Ela é o culminar da sua vida de oração.
Agora cumpre-se no verdadeiro Davi, a palavra do suave salmista de Israel: «Em ti, SENHOR, confio… Nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Salmo 31:1,5).
«Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores» (1 Timóteo 1:15).
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Os textos entre «...» são tirados da Bíblia, a Palavra de Deus.
«Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem» (Lucas 23:33-34)
Estas primeiras palavras são uma oração, uma intercessão.
Jesus Cristo, santo e justo, o Filho de Deus, o rei de Israel, encontrou neste mundo corrompido pelo pecado, autoridades injustas o suficiente para o condenar à tortura da cruz enquanto ele proclamava a sua inocência (Lucas 23:4, 14:22; João 18:38; 19:4,6).
Rejeitado pelo Seu povo, abandonado pelos Seus discípulos, os pregos trespassam as Suas mãos e os Seus pés. Ele acaba de ser crucificado e todos os homens gozam d’Ele. Da Sua boca santa não sai nenhuma reclamação, nenhum protesto, nenhuma ameaça apesar do sofrimento atroz da crucificação.
A graça brota dos Seus lábios: o Salvador busca o perdão do Seu Pai em favor do povo judeu responsável e de todos os homens que mereceriam um julgamento imediato por terem tratado daquele modo o Filho de Deus.
Tal pecado não poderia permanecer impune pela justiça de Deus, o Pai do Senhor Jesus; mas Este pediu perdão ao Seu Pai, permitindo aos culpados evitar uma punição imediata e dar-lhes a oportunidade de confessar os seus pecados e receber a salvação pela fé: Jesus mitigou a gravidade do pecado n’Ele atribuindo-lhe o caráter de pecado cometido por ignorância dos homens («eles não sabem o que fazem» Lucas 23:33-34) quem sozinho poderia ser perdoado sob a Lei (Deuteronómio 19: 11-13). O pecado voluntário, cometido por orgulho, pelo contrário, conduziu à condenação, à morte imediata.
Os sofrimentos da cruz revelam-nos a extensão da graça divina e a plenitude do grande e magnífico amor da parte do Salvador.
A maravilhosa resposta a esta intercessão de Cristo será o chamado de Pedro cinquenta dias depois aos judeus de Jerusalém: «E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos príncipes?» (Atos 3:17). Muitos milhares de pessoas aceitaram as boas novas da salvação através de Jesus Cristo e foram perdoadas.
Através desta oração, Jesus age de acordo com o Seu Evangelho acerca de como amar os inimigos. Entendemos, então, que o cristianismo é muito mais que uma moral: é uma vida que ama e que se dá. Se por um lado a crucificação de Jesus mostrou toda a maldade humana, por outro revelou a imensidão do amor divino: o amor do Pai que dá o Filho para a salvação de todos os que creem n’Ele, o amor do Filho que voluntariamente se entrega pelos culpados. Recusaríamos nós tal presente?
A segunda palavra
«Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso» (Lucas 23:43)
A segunda palavra de Jesus na cruz é uma promessa de salvação feita pelo juiz supremo a um condenado. Jesus não o perdoou temporariamente, mas deu-lhe a paz eterna; não lhe deu uma vida continuada na terra, mas o reino de Deus e a ressurreição para viver uma nova vida no céu.
Que cenário! Três cruzes postas sobre o monte do Calvário com três condenados. Jesus Cristo o justo, o santo, está ali sobre a cruz de madeira, no meio de dois criminosos crucificados como Ele.
No início, os dois criminosos insultavam o seu companheiro de sofrimento, Jesus (Mateus 27:44; Marcos 15:32), mas rapidamente o cenário muda, distinguindo-se duas categorias de pessoas que aparecem. Estes dois criminosos representam toda a humanidade culpada mas dividida em dois, aqueles que pela fé vêm a crer em Jesus Cristo e aqueles que permanecem no seu pecado.
Um dos malfeitores permanece no seu triste estado de perdição e continua a insultar o Filho de Deus.
Mas o outro criminoso muda a sua atitude. Afetado pela sua consciência e pela graça do Salvador, ele vê o quanto pecou e repreende a maldade do seu companheiro. Reconhecendo a sua própria culpa, proclama a justiça do castigo que os dois suportam e reconhece a inocência do Senhor homenageando a Sua retidão: «recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez» (Lucas 23:41).
Neste momento crucial, ele volta-se inteiramente para Jesus Cristo dizendo: «Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino» (Lucas 23:42). Pela fé, ele chama esse homem crucificado de "Senhor" e pede que ele se lembre dele; pela fé ele sabe que o reino do Senhor virá. Esquecendo os seus próprios males e tudo o que o rodeia, ele vê os sofrimentos de Cristo e as glórias que se seguirão.
A resposta é imediata e a promessa é certa: «Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso» (Lucas 23:43).
Nenhuma fase transitória, nenhum julgamento a esperar, o criminoso condenado pelos homens é então perdoado por Deus. Ele é perdoado porque Jesus ia redimir as suas faltas diante de Deus. Jesus ocupou diante de Deus, por amor, na cruz, o lugar do pecador miserável condenado à morte.
O criminoso convertido recebe a garantia de que irá compartilhar, no mesmo dia, o lugar abençoado do Salvador no paraíso. Futuro maravilhoso que será compartilhado por todos aqueles que depositaram a sua confiança em Cristo!
Jesus Cristo é o Salvador das vidas arruinadas pelo mal, pelo pecado. Não podemos desesperar por causa do mal que fizemos. Jesus é poderoso para salvar ainda hoje. Ele experimentou a maior humilhação, a humilhação mais profunda, a morte vergonhosa da cruz, para nos dar a conhecer o amor do Seu Pai para toda a eternidade!
A graça de Deus fez uma obra maravilhosa no coração desse malfeitor:
- O primeiro fruto é o temor de Deus que conduz à vida (Provérbios 19:23).
- O segundo fruto é reconhecer o pecado através de um profundo despertar da sua consciência, sem qualquer intervenção externa, apenas por intervenção de Deus. Ele reconhece a sua própria culpa diante de Deus. Estes são os sinais de uma conversão autêntica. Ele aceita a sua própria condenação quando faz uma confissão sincera do seu pecado.
- Ao mesmo tempo, ele dá a Cristo um testemunho maravilhoso da Sua inocência, santidade e justiça.
- Ele volta-se para Jesus que encheu o seu coração, identificando-o como seu Salvador e reconhecendo-o como Rei.
Ao responder ao apelo do criminoso, os pensamentos de Jesus Cristo elevam-se para este lugar de segurança onde Deus o ergueria (Salmo 69:29). Mesmo antes do dia terminar.
Hoje: que prontidão!
Tu serás: que certeza!
Comigo: que companhia!
No paraíso: que descanso!
A terceira palavra
«Mulher, eis aí o teu filho» e «Eis aí tua mãe» (João 19:26-27)
Na sua primeira palavra na cruz, Jesus pede o perdão para aqueles que o crucificaram.
Na segunda, ele transforma, por sua graça, um criminoso num dos seus companheiros no céu.
Na terceira, ele confia carinhosamente a sua mãe, provavelmente viúva, ao seu discípulo João.
Como não ser tocado pelo cuidado e carinho que Jesus, apesar de seu crescente sofrimento, mostrou à mãe? Que delicadeza apesar do ódio ao seu redor! Mas também que dignidade, pois Jesus continua o Senhor de sua mãe assim como do seu discípulo. Apesar de Jesus estar em sofrimento e a morrer, ele não depende da bondade da sua família. Pelo contrário trata-se de um filho amoroso que tem em conta as necessidades futuras de sua mãe.
Jesus falou estas palavras antes das três horas de trevas e de abandono por parte de Deus. Mesmo os laços mais legítimos na terra, como a ligação de um filho com a mãe, seriam quebrados. Era necessário que Jesus estivesse sozinho no lugar onde Deus julgaria o pecado do mundo.
É na companhia dos discípulos de Jesus que Maria encontrará um doce consolo, depois de tantas dores que lhe haviam sido premeditadas (Lucas 2:35).
Depois de Jesus ressuscitar e ser elevado ao céu, nós a vemos como uma crente que, juntamente com os apóstolos, perseverava em oração e súplicas pela vinda do Espírito Santo (Atos 1:14, Joel 2:28-32).
Esta palavra estabelece um vínculo divino entre Maria, a mãe de Jesus, e João, o seu discípulo amado. É também a expressão do elo doce e poderoso que une todos os redimidos do Senhor, um “amor no Espírito" do qual encontramos belas ilustrações no Novo Testamento, um elo espiritual e inalterável. Os crentes formam uma família, um novo povo.
Esta terceira palavra de Jesus na cruz salienta o amor, a fidelidade e a ternura de Jesus. É também a palavra do Salvador que dará a vida por aqueles que acreditam.
A quarta palavra (a palavra central)
«Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?» (Mateus 27:46 e Marcos 15:34)
Não podemos abordar esta quarta palavra de Jesus crucificado sem que haja um profundo respeito. É uma palavra de uma importância real e de uma densidade imensa que permanece incompreensível para nós.
Por que Jesus Cristo, o Filho de Deus, sendo «santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores» (Hebreus 7:26), «que não cometeu pecado» (1 Pedro 2:22) e em quem «não há pecado» (1 João 3: 5) sofre e é abandonado por Deus? O único homem perfeitamente correto e unido ao Seu pai por uma comunhão permanente.
Desde o meio-dia, é noite em Jerusalém! A escuridão sobrenatural cobriu o país. Os homens pararam de zombar e de proferir insultos e são postos de lado. Deus afasta o Seu Filho do olhar dos homens. Ninguém poderá jamais entrar na aflição de Jesus durante estas três horas de trevas. Cristo sofreu sob a mão de Deus por causa dos nossos pecados. Embora o próprio Senhor Jesus não fosse culpado do pecado, ele carregou os nossos pecados sobre ele. Ele assumiu voluntariamente os nossos erros e concordou em sofrer o castigo que nós merecíamos. Por amor, ele identificou-se connosco enquanto pecadores. Sem estas horas de expiação, ninguém poderia ser salvo.
Este é o tema de adoração eterna para todos os crentes! Foi por ti e por mim que ele foi abandonado por Deus na cruz. Ele foi abandonado porque Ele «o fez pecado por nós» (2 Coríntios 5:21), porque ele fez-se «maldição por nós» (Gálatas 3:13).
Profeticamente anunciado no Salmo 22:1. Ele está na cruz, sem resposta, sem descanso e sem amparo, preso a todas as dores.
Ele sofre a eternidade do NOSSO castigo, sob o peso esmagador dos NOSSOS pecados. Um julgamento que é proporcional à santidade inflexível de Deus que teve de punir o pecado.
Na cruz, Deus deu a medida completa do que Ele é:
Em perfeita justiça contra o pecado.
Em perfeito amor para com o pecador.
A quinta palavra
«Tenho sede» (João 19:28)
Na quinta palavra da cruz, depois de três horas de abandono, Jesus pede para beber. A sede é um dos tormentos físicos do sofrimento da cruz.
As Suas feridas, a Sua luta moral, fazem com que Ele sofra de uma sede incandescente. Mas não é por isso que Ele diz: «Tenho sede». Na cruz, como em toda a Sua vida, Jesus sempre fez a vontade de Deus. Apesar do intenso sofrimento, está escrito «Tenho sede» porque as Sagradas Escrituras anunciaram com antecedência: «Na minha sede me deram a beber vinagre» (Salmos 69:21). Ele teve que cumprir esta Escritura.
Mas podemos pensar que esta palavra de Jesus também tem um significado espiritual. Finalizada a sua obra, Jesus olha para a frente. A Sua sede evoca o intenso desejo pela alegria da presença de Deus (Salmos 63:1). A Sua sede é um sinal da iminência do reino, onde Ele experimentará a plena comunhão de Seu Pai e dos Seus.
Ele disse «Tenho sede» para tornar-se, para todos aqueles que confiam nele, a fonte de água viva. Ele prepara a água viva da salvação que será dada ao mundo (João 4:14).
O Senhor glorificado sacia agora os seus. Ele é a rocha batida da qual brota a água espiritual de que precisamos todos os dias enquanto atravessamos o deserto deste mundo. Somente Ele possui e dá a água da vida que tira a sede para sempre (João 4:11,14).
A Sua voz vitoriosa fala-nos do alto do céu no final das Sagradas Escrituras:
«A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida» (Apocalipse 21: 6)
«E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida» (Apocalipse 22:17)
A sexta palavra
«Está consumado» (João 19:30)
As três horas de trevas terminaram. Num último gesto de obediência, Jesus acabou de beber vinagre; está escrito então: «Está consumado». A Sua missão na terra está a chegar ao fim. Quando ele chegou, ele pôde dizer: «Eis aqui venho para fazer, ó Deus, a tua vontade» (Hebreus 10: 7). Agora Ele terminou tudo o que o Pai lhe havia dado a fazer (João 17: 4). Jesus glorificou perfeitamente a Deus.
Todos os crentes podem dizer: «o Filho de Deus (…) se entregou a si mesmo por mim» (Gálatas 2:20). Tudo deriva do valor da cruz: a salvação de cada crente, a formação da Igreja, o acesso ao Pai, o estabelecimento de novos céus e de uma nova terra «em que habita a justiça» (2 Pedro 3:13). Tudo descansa na morte de Jesus.
Esta sexta palavra é como a assinatura que Cristo coloca no texto do que Ele fez. Uma palavra derivada do grego: "tetelestai"! Foram encontrados papiros onde as notas apareciam com a palavra "tetelestai" escrita para indicar que a dívida estava totalmente paga.
A obra de Jesus na cruz é perfeita e acabada, não há "nada a acrescentar, nem nada para remover". A nossa confiança na nossa salvação eterna não pode descansar nas nossas ações, nem nos nossos méritos, nem em qualquer coisa que vem de nós mesmos, mas simplesmente no sacrifício de Jesus Cristo, perfeito, completo e aceite por Deus.
Enquanto todas as religiões dos homens dizem "faça obras", Jesus proclama diante do mundo inteiro: «Está consumado» (João 19:30). «Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai» (João 16:28). No meio deste notável e admirável versículo, está escrito a obra da cruz que Ele realizou, um trabalho perfeito e imortal.
Esta palavra concisa e magnífica ressoa como um grito de vitória através dos séculos até à eternidade.
Na cruz, Deus «nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós» (Romanos 8:32) «Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave» (Efésios 5: 2). «A oferta do corpo de Jesus Cristo», o santo mártir, foi «oferecido uma vez por todas» (Hebreus 10:10).
A sétima palavra
«Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lucas 23:46)
Esta última palavra de Jesus na cruz evoca toda a intimidade do amor e da comunhão encontrada entre Jesus e o Seu Pai. Tal como antes das três horas de trevas, Jesus disse novamente: "Pai".
A expiação é cumprida, a questão dos nossos pecados é resolvida. Em perfeita paz, em plena consciência, Ele deixará então a sua vida, dará sua vida. Tendo baixado a cabeça, Ele entrega o Seu espírito de volta ao Pai. Este é o ato final do Seu sacrifício voluntário. Ele próprio separou o espírito do Seu corpo e o entregou a Deus, Seu Pai.
Muitas vezes o Novo Testamento nos diz que Jesus se entregou a si mesmo (Gálatas 2:20, Efésios 5:2,25, Tito 2:14).
Todas estas expressões fazem brilhar a grandeza e o amor d’Aquele que deu a Sua vida. Ninguém tinha o poder de a tirar d’Ele (João 10:18), mas Ele ofereceu-a para que pudéssemos receber uma nova vida espiritual, confiando n’Ele.
O grande clamor do Senhor (Mateus 27:50, Marcos 15:37), «com grande voz» (Lucas 23:46), testifica toda a força e toda a energia que o Senhor preservou através dos Seus tormentos e sofrimentos. A morte do Salvador foi voluntária.
Jesus enfrenta a morte, pacificamente, como um conquistador, sabendo que Deus ressuscitará o Seu corpo (Atos 2:27). Ele destruiu por sua morte o poder do diabo que nos assustava (Hebreus 2:14). Para obter esta vitória, Ele teve de passar pela morte (que, de acordo com Romanos 6:23, é «o salário do pecado» que o Senhor tomou sobre ele) e sair dela pela ressurreição.
A sétima palavra anuncia o descanso da nova criação. O pecado e o mal são vencidos na cruz. Assim como o sétimo dia da criação foi o dia de descanso e satisfação para Deus, a sétima palavra da cruz leva o Senhor para o lugar de descanso, isto é, para as mãos do Pai. Seguindo Jesus, nós também podemos nos entregar pacificamente a nosso Deus e Pai antes da morte.
Esta oração é também a expressão final da sua vida de obediência, submissão e dependência de sua humanidade perfeita. Ela é o culminar da sua vida de oração.
Agora cumpre-se no verdadeiro Davi, a palavra do suave salmista de Israel: «Em ti, SENHOR, confio… Nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Salmo 31:1,5).
«Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores» (1 Timóteo 1:15).
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Os textos entre «...» são tirados da Bíblia, a Palavra de Deus.