Jesus Cristo o Bom Pastor
Max Billeter
O Senhor Jesus como Pastor
O facto de o Senhor Jesus ser o Pastor é um grande tema das Sagradas Escrituras, quer no Velho Testamento quer no Novo.
Por exemplo, Jacob falou acerca do seu filho José, nestes termos:
“de onde é o pastor” (Génesis 49:24).
Se tivermos em mente que José é a imagem do Senhor Jesus veremos imediatamente o Senhor Jesus como Pastor. O Senhor Jesus é visto como o Pastor na Sua perfeição moral.
No Velho Testamento, o Salmo 23, escrito há cerca de 3000 anos, tem servido de conforto para inúmeras pessoas. Aí, a ovelha fala do Senhor como o Pastor. Este assunto é também retomado pelos profetas (por exemplo, Isaías 40 e Jeremias 17, e partes de Ezequiel), e na passagem que quero ver a seguir, que é Zacarias 13.
Eu encontrei apenas 2 ocasiões em que alguém fala acerca do Senhor Jesus como “meu pastor” – David no Salmo 23, e Zacarias, no capítulo 13.
Aí, Deus fala acerca de si mesmo na seguinte maneira: “Ó espada, desperta-te contra o meu pastor, e contra o homem que é o meu companheiro” (Zacarias 13:7)
O assunto também é apresentado no Novo Testamento em três apectos:
O Grande Pastor,
o Sumo Pastor
e o Bom Pastor.
O Grande Pastor
Em Hebreus 13 Deus é aresentado como Deus de paz que ressuscitou o Senhor Jesus da morte, e que está agora no céu, onde é o Grande Pastor. Como o Grande Pastor, Ele tem duas características. A primeira é apresentada em Hebreus, onde ele está ocupado com as nossas fraquezas como o Grande Sumo-sacerdote. Depois, na primeira epístola de João Ele é o Advogado, e aí está ocupado connosco, quando pecamos.
O Sumo Pastor
Brevemente o Senhor Jesus irá voltar em glória, e este é o tema das epístolas de Pedro. Em I Pedro 5 o Senhor Jesus Cristo manifestar-se-á como o Sumo Pastor (isto quer dizer que Ele é o mais importante).
O Bom Pastor
De seguida iremos ocupar-nos d’Ele como o Bom Pastor.
A) A Primeira Parábola do Bom Pastor
João 10:1-6
O Senhor Jesus apresenta-nos duas imagens nestes versículos.
A primeira, nos versículos 1 a 6:
Aí vemos o Senhor Jesus a entrar pela porta do aprisco das ovelhas. O aprisco é o curral judaico, e as paredes são as leis e as ordenanças que Deus deu a Moisés. É a tal parede de separação de que fala Efésios 2:14.
Estas duas passagens (Efésios 2;11-22 e João 10:1-6) lançam luz uma sobre a outra. O Senhor Jesus entra neste aprisco judaico e Ele entra pela porta. Isto mostra-nos que as Exrituras do Velho Testamento estavam certas. Mas também lemos que “Ele veio para os que eram seus e os seus não O receberam” (João 1:11)
Isto é o que o Senhor Jesus experimentou quando veio para seu amado povo de Israel. Alguns, de entre os judeus, receberam-no, e estes tornaram-se as Suas ovelhas. Elas ouvem a Sua voz.
A voz do Bom Pastor
A voz do Bom Pastor tem sempre duas tolalidades, e eu gostaria de mostrar essas duas tonalidades com os Salmos.
Primeiro, com o Salmo 40:
“Preguei a justiça na grande congregação; eis que não retive os meus lábios, Senhor, tu o sabes.” (Salmos 40:9)
E depois no Salmo 45: “Tu és mais formoso do que os filhos dos homens; a graça se derramou em teus lábios; por isso Deus te abençoou para sempre.” (Salmos 45:2)
Esta é a dupla tonalidade da voz do Bom Pastor. Uma chama-nos à obediência e à prática da justiça, e a segunda mostra-nos a sua graça.
Quando uma voz fala ao nosso ouvido, e fala sobre obediência e retidão durante todo o tempo, e nunca fala sobre graça, então, esta voz não é a voz do Bom Pastor, e se há uma outra voz que fala ao nosso ouvido e que apenas fala sobra amor, misericórdia e graça e nunca menciona obediência e a prática da justiça, então, essa voz também não é a voz do Bom Pastor.
Então, estas ovelhas ouviram a voz do Bom Pastor, e elas tornaram-se as Suas ovelhas porque Ele as chama pelo nome. Aqui podemos ver que passar a ser uma ovelha do Bom Pastor é algo muito pessoal.
De certeza que já ouvimos a voz do Bom Pastor pessoalmente; os pais não podem fazer isto pelos filhos, o marido não pode fazer isto pela esposa, todos têm que fazer isto individualmente. Conhecemos a maravilhosa passagem de Isaías 43 “Mas agora, assim diz o SENHOR que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu.” (Isaías 43:1).
O que é que o Pastor faz agora com as Suas ovelhas?
Ele leva-as para fora do curral. Isto é muito importante nos Evangelhos, e também o encontramos em relação ao Calvário. Eu gostava de salientar que a escritura não diz que o Senhor Jesus subiu ao Calvário mas que Ele foi ao Calvário.
No Evangelho de Mateus lemos que Ele foi levado lá por homens, mas no Evangelho de João lemos que Ele, por si mesmo, levando Ele mesmo a Sua cruz.
“Ele padeceu fora de portas” e agora conduz, aqueles que são seus, para fora. Este é o tema de Hebreus 13. Eu não quero entrar em pormenores, mas apenas salientar que Ele vai adiante de nós (este é, também, o tema das epístolas de Pedro). Ouvimos acerca dos passos do Senhor e de que nos é permitido segui-los. Este é o grande privilégio das ovelhas deste Pastor.
Os passos do Senhor Jesus são perfeitos, nós temos que treinar para andar neles durante toda a nossa vida. Mas que privilégio é que Ele tenha ido adiante de nós e que nós o possamos seguir.
Existe algum privilégio maior do que seguir o Bom Pastor?
Isto tem duas consequências importantes.
Primeiramente, seguir o Senhor Jesus trará sobre nós forte censura (NT: vitupério - desaprovação, insulto, injúria, infâmia e ingnomínia). O Senhor Jesus disse-nos “O escravo não é maior que o seu Senhor. Se eles me perseguiram, também vos perseguirão a vós!” (João 15:20)
Quem seguir ao Senhor Jesus sem comprometimento será alvo de vitupério. Este é o vitupério de Cristo.
Mas há uma segunda vertente disto: Uma profunda alegria no coração. E eu não estou a falar teoricamente. Todos podem experimentar isto na prática ao seguir o Senhor Jesus.
Não se trata de um tipo qualquer de vitupério, trata-se do vitupério de Cristo. Hebreus 13 diz “levando o seu vitupério”.
Os apóstolos, conforme o descrito em Actos, estavam felizes ao sofrer o vitupério pelo Senhor Jesus. Estas são as duas grandes consequências de seguir o Senhor Jesus. Talvez a razão pela qual temos tão pouca alegria nas nossas vidas cristãs é porque não seguimos ao Senhor Jesus incondicionalmente.
As ovelhas seguem-no porque conhecem a Sua voz. Elas não seguem um estranho porque elas têm ouvido a voz do estranho durante muito tempo e concluíram que que é uma voz má. Há quem diga que a Bíblia nos diz para examinarmos os ensinos das vozes que ouvimos, mas não é isso que a Bíblia diz. A razão pela qual as ovelhas não seguem o estranho é porque não conhecem a sua voz.
Não é necessário que examinemos todos os erros na Cristandade. Um navio estava a entrar no porto, e era uma entrada muito difícil, por causa das muitas rochas que estavam debaixo da água. Um passageiro foi à ponte e disse ao Capitão: “Eu sei que conhece cada rocha desta parte do mar. É assim que vai conseguir entrar no porto em segurança.” Mas o capitão respondeu: “Eu não conheço nenhuma das rochas, mas eu conheço o caminho onde não há nenhumas rochas. É por esse caminho que irei.”
Nós também conhecemos o caminho onde não há rochas, e esse caminho é o de seguir o Senhor Jesus sem comprometer.
B) A segunda parábola do Bom Pastor
João 10:7-9
A partir do versículo 7 encontramos uma imagem diferente. Aí o Senhor Jesus apresenta-se a Ele mesmo como sendo a Porta, e não há salvação em mais ninguém se não n’Ele.
Queremos afirmar isto claramente: Não há salvação em mais ninguém.
“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” (Actos 4:12).
É uma coisa maravilhosa ser salvo. Eu espero que todos os que pertencem ao Senhor Jesus tenham um coração cheio de gratidão pelo facto de que ele, ou ela, não morrerão. Quão terrível é saber que todos os que rejeitam a salvação irão morrer. Eles vão ser lançados fora da presença de Deus para sempre no lago de fogo. Mas aqueles que entrarem pela sua Porta vão experimentar três coisas.
Primeiro, eles vão ser salvos
Salvação é uma palavra fácil de entender. Ela inclui a alma, as circunstâncias da vida, e o dia do arrebatamento em que vamos ser transformados e os nossos corpos mudarão.
Em segundo lugar, eles vão entrar e sair
A ideia de entrar e sair é que há liberdade, movimento livre aberto na presença do Pastor, sem receios. Eu quero afirmar isto com muita certeza: É a liberdade cristã.
Eu vou dizer-vos aquilo que a liberdade cristã não é. Não é liberdade para pecar ou para viver de uma maneira mundana. Há pessoas que falam assim porque elas acham que a liberdade cristã significa uma vida sem restrições. Mas nós somos avisados, em 2 Pedro 2:19, acerca daqueles que prometem liberdade mas são, eles mesmos, escravos da corrupção.
O que é a liberdade cristã?
Ela tem 4 aspectos.
1) A primeira coisa que quero mostrar está em 2 Coríntios 3:17: “onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.”
Nós veremos a glória do Senhor com rosto desvendado. Este é o primeiro aspecto da liberdade cristã: encontrar nossa alegria no Senhor Jesus.
2) Em segundo lugar Romanos 6 fala acerca do pecado habitando em nós e diz: “Vocês eram escravos do pecado”.
Sim, nós estávamos debaixo do poder do pecado antes da nossa conversão, mas a liberdade cristã significa queagora não temos que pecar mais.
O mesmo capítulo afirma: “E tendo sido libertados do pecado,…” (Romanos 6:17-18)
Sabemos da Bíblia, e da amarga experiência, que, como crentes, ainda somos capazes de pecar, mas a liberdade cristã significa que não precisamos mais pecar. Isto é uma tremenda liberdade.
3) Em terceiro lugar, lemos em Romanos 8:21; “a liberdade da glória dos filhos de Deus.”
Ainda não alcançámos a glória, mas temos a liberdade para gozar a glória de Cristo.
Quero explicar isto. Se alguma vez planearam visitar um amigo numa outra cidade, não podem simplesmente aparecer sem avisar, porque esse amigo pode não estar em casa ou mesmo estar ocupado. É preciso telefonar primeiro e perguntar se é possível aparecer.
Ainda assim, quando as crianças vão para casa elas não precisam telefonar aos pais primeiro e fazer quaisquer preparativos – elas simplesmente vão. Esta é a liberdade dos filhos de Deus, e este é o assunto de Romanos 8.
A liberdade dos filhos de Deus é ser capaz de ir à presença de Deus Pai. O Espirito Santo testifica que somos filhos de Deus, e nós recebemos o espírito de filhos quando dizemos “Abba, Pai”.
Eu espero que todos façamos uma utilização diligente desta liberdade, sendo sempre capazes de entrar na presença do Pai. Aí podemos fazer conhecidos todos os nossos pedidos. Tenho experimentado isto com os meus próprios filhos. De tempos a tempo, uma das crianças vem ao meu gabinete, e normalmete ele ou ela querem pedir alguma coisa. Mas às vezes, entram mesmo que não queiram pedir nada. Elas apenas querem estar algum tempo comigo.
Já experimentaram isto? Estar de joelhos diante do Pai e ter feito conhecidos todos os vossos pedidos, e depois apenas querer estar na Sua presença mais um pouco? Esta é a liberdade dos filhos de Deus.
4) A quarta passagem está em 1 Pedro 5, que fala dos presbíteros em geral. Eles devem “servir voluntariamente”. (v2)
Quero tornar uma coisa muito explícita aqui: O Senhor Jesus não força ninguém a trabalhar para Ele. Ele apenas usa aqueles que querem trabalhar voluntariamente para Ele.
Servir ao Senhor é uma questão de livre vontade. É a livre vontade dos crentes servirem-nO. Mas isso não quer dizer que eles são independentes, O nosso problema é que nós pensamos que estar obrigado é ser “dependência” e estar de livre vontade é “independência”.
Mas se olharmos para o Senhor Jesus verificamos que em João 17 Ele diz “Eu vim do Pai” (essa foi a Sua vontade) e, depois, “o Pai me enviou” (isso é dependência perfeita).
Isto também é verdade no que diz respeito ao Ministério Cristão, tem que ser desenvolvido de livre vontade e em total dependência. Isto é a ovelha a entrar e sair da presença do Pastor.
Terceiro, eles encontrarão sustento
A terceira coisa dita nesta segunda parábola é que encontraremos sustento; sustento para o nosso intelecto e para o nosso coração.
Gostava de dirigir uma palavra àqueles a quem o Senhor usa no Ministério da Sua palavra. O Propósito da pregação da Palavra não é dizer muitas coisas interessantes, mas apresentar a pessoa do Senhor Jesus aos corações e consciências daqueles que ouvem. Este é o genuíno alimento para as suas almas.
O Senhor Jesus Cristo é o Bom Pastor
João 10:10-18
Gostaria agora de dizer algumas palavras sobre estes versículos. Antes disso, lembro-me do dia em que fiquei noivo há 30 anos. Fui a joalherias com a minha noiva, e disse ao joalheiro: “queremos comprar duas alianças de casamento.” O joalheiro pegou num tecido escuro e colocou-o em cima da mesa, e depois dispôs os anéis no tecido de modo a que eles pareciam muito mais brilhantes. O joalheiro trabalhou usando o contraste. É exactamente isso que o Senhor Jesus faz aqui. Se não conseguirmos ver isto não conseguiremos compreender estes versículos.
Ele usa um contexto muito escuro aqui, referindo-se a um ladrão que mata e rouba (v. 10), e sobre este fundo escuro de ódio Ele mostra o Seu maravilhoso amor que Ele mesmo provou ao dar a Sua vida no Calvário (v. 11).
Esta é a primeira grande característica do Bom Pastor: Ele ama-nos com amor até a morte.
Então Ele mostra-nos outro fundo escuro, falando do mercenário (vv. 12-13). Este é um homem que apascenta o rebanho por dinheiro e foge quando há perigo.
Sabe o que é isso? Isso é infidelidade. É contra esse pano de fundo que o Senhor apresenta a Sua fidelidade, uma fidelidade até a morte (vv. 14-15).
Estas são as duas grandes características do Bom Pastor – Ele ama-nos e permanece fiel.
Agora chegamos ao importante versículo 16. Lá o Senhor Jesus diz: “e tenho outras ovelhas que não são deste aprisco”.
Eu estou muito feliz com isto. Estas são as ovelhas provenientes das nações à volta do mundo.
Então Ele diz uma frase maravilhosa: “Eu também tenho que as trazer”.
Agora ele não conduz este rebanho a um novo aprisco. É verdade que existe um muro ao redor dos crentes (se pensarmos na assembléia como uma cidade, como lemos de um grande e alto muro, Apocalipse 21:12), mas este muro não está lá para manter os crentes juntos.
O muro está lá para impedir que o mal entre, ou, se houver mal dentro, para o manter fora quando for posto fora. Mas nunca tem o objectivo de nos manter juntos.
Então, o que é que mantém os crentes juntos?
É o poder de atração do Pastor que nos mantém juntos.
Isto leva-nos aos versículos 17 e 18. À medida que somos atraídos pelo Pastor e nos achegamos cada vez mais a Ele, chegaremos a entender que Ele é o Filho do Pai, o Filho do Seu amor.
Aqui o Senhor Jesus diz: “Tal como o meu Pai me amou”. Neste contexto, Ele apresenta esta maior verdade, que Ele entregou a Sua vida em Divino poder e que Ele ressuscitou dos mortos em Divino poder. Ele recebeu em mandamento do Seu Pai, e Ele cumprio-o na perfeição.
Nós temos o privilégio de pertencer ao rebanho do Senhor Jesus. O Bom Pastor está no centro e Ele é Filho do Pai.
*****
Os textos entre «...» são tirados da Bíblia, a Palavra de Deus.
Max Billeter
O Senhor Jesus como Pastor
O facto de o Senhor Jesus ser o Pastor é um grande tema das Sagradas Escrituras, quer no Velho Testamento quer no Novo.
Por exemplo, Jacob falou acerca do seu filho José, nestes termos:
“de onde é o pastor” (Génesis 49:24).
Se tivermos em mente que José é a imagem do Senhor Jesus veremos imediatamente o Senhor Jesus como Pastor. O Senhor Jesus é visto como o Pastor na Sua perfeição moral.
No Velho Testamento, o Salmo 23, escrito há cerca de 3000 anos, tem servido de conforto para inúmeras pessoas. Aí, a ovelha fala do Senhor como o Pastor. Este assunto é também retomado pelos profetas (por exemplo, Isaías 40 e Jeremias 17, e partes de Ezequiel), e na passagem que quero ver a seguir, que é Zacarias 13.
Eu encontrei apenas 2 ocasiões em que alguém fala acerca do Senhor Jesus como “meu pastor” – David no Salmo 23, e Zacarias, no capítulo 13.
Aí, Deus fala acerca de si mesmo na seguinte maneira: “Ó espada, desperta-te contra o meu pastor, e contra o homem que é o meu companheiro” (Zacarias 13:7)
O assunto também é apresentado no Novo Testamento em três apectos:
O Grande Pastor,
o Sumo Pastor
e o Bom Pastor.
O Grande Pastor
Em Hebreus 13 Deus é aresentado como Deus de paz que ressuscitou o Senhor Jesus da morte, e que está agora no céu, onde é o Grande Pastor. Como o Grande Pastor, Ele tem duas características. A primeira é apresentada em Hebreus, onde ele está ocupado com as nossas fraquezas como o Grande Sumo-sacerdote. Depois, na primeira epístola de João Ele é o Advogado, e aí está ocupado connosco, quando pecamos.
O Sumo Pastor
Brevemente o Senhor Jesus irá voltar em glória, e este é o tema das epístolas de Pedro. Em I Pedro 5 o Senhor Jesus Cristo manifestar-se-á como o Sumo Pastor (isto quer dizer que Ele é o mais importante).
O Bom Pastor
De seguida iremos ocupar-nos d’Ele como o Bom Pastor.
A) A Primeira Parábola do Bom Pastor
João 10:1-6
O Senhor Jesus apresenta-nos duas imagens nestes versículos.
A primeira, nos versículos 1 a 6:
Aí vemos o Senhor Jesus a entrar pela porta do aprisco das ovelhas. O aprisco é o curral judaico, e as paredes são as leis e as ordenanças que Deus deu a Moisés. É a tal parede de separação de que fala Efésios 2:14.
Estas duas passagens (Efésios 2;11-22 e João 10:1-6) lançam luz uma sobre a outra. O Senhor Jesus entra neste aprisco judaico e Ele entra pela porta. Isto mostra-nos que as Exrituras do Velho Testamento estavam certas. Mas também lemos que “Ele veio para os que eram seus e os seus não O receberam” (João 1:11)
Isto é o que o Senhor Jesus experimentou quando veio para seu amado povo de Israel. Alguns, de entre os judeus, receberam-no, e estes tornaram-se as Suas ovelhas. Elas ouvem a Sua voz.
A voz do Bom Pastor
A voz do Bom Pastor tem sempre duas tolalidades, e eu gostaria de mostrar essas duas tonalidades com os Salmos.
Primeiro, com o Salmo 40:
“Preguei a justiça na grande congregação; eis que não retive os meus lábios, Senhor, tu o sabes.” (Salmos 40:9)
E depois no Salmo 45: “Tu és mais formoso do que os filhos dos homens; a graça se derramou em teus lábios; por isso Deus te abençoou para sempre.” (Salmos 45:2)
Esta é a dupla tonalidade da voz do Bom Pastor. Uma chama-nos à obediência e à prática da justiça, e a segunda mostra-nos a sua graça.
Quando uma voz fala ao nosso ouvido, e fala sobre obediência e retidão durante todo o tempo, e nunca fala sobre graça, então, esta voz não é a voz do Bom Pastor, e se há uma outra voz que fala ao nosso ouvido e que apenas fala sobra amor, misericórdia e graça e nunca menciona obediência e a prática da justiça, então, essa voz também não é a voz do Bom Pastor.
Então, estas ovelhas ouviram a voz do Bom Pastor, e elas tornaram-se as Suas ovelhas porque Ele as chama pelo nome. Aqui podemos ver que passar a ser uma ovelha do Bom Pastor é algo muito pessoal.
De certeza que já ouvimos a voz do Bom Pastor pessoalmente; os pais não podem fazer isto pelos filhos, o marido não pode fazer isto pela esposa, todos têm que fazer isto individualmente. Conhecemos a maravilhosa passagem de Isaías 43 “Mas agora, assim diz o SENHOR que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu.” (Isaías 43:1).
O que é que o Pastor faz agora com as Suas ovelhas?
Ele leva-as para fora do curral. Isto é muito importante nos Evangelhos, e também o encontramos em relação ao Calvário. Eu gostava de salientar que a escritura não diz que o Senhor Jesus subiu ao Calvário mas que Ele foi ao Calvário.
No Evangelho de Mateus lemos que Ele foi levado lá por homens, mas no Evangelho de João lemos que Ele, por si mesmo, levando Ele mesmo a Sua cruz.
“Ele padeceu fora de portas” e agora conduz, aqueles que são seus, para fora. Este é o tema de Hebreus 13. Eu não quero entrar em pormenores, mas apenas salientar que Ele vai adiante de nós (este é, também, o tema das epístolas de Pedro). Ouvimos acerca dos passos do Senhor e de que nos é permitido segui-los. Este é o grande privilégio das ovelhas deste Pastor.
Os passos do Senhor Jesus são perfeitos, nós temos que treinar para andar neles durante toda a nossa vida. Mas que privilégio é que Ele tenha ido adiante de nós e que nós o possamos seguir.
Existe algum privilégio maior do que seguir o Bom Pastor?
Isto tem duas consequências importantes.
Primeiramente, seguir o Senhor Jesus trará sobre nós forte censura (NT: vitupério - desaprovação, insulto, injúria, infâmia e ingnomínia). O Senhor Jesus disse-nos “O escravo não é maior que o seu Senhor. Se eles me perseguiram, também vos perseguirão a vós!” (João 15:20)
Quem seguir ao Senhor Jesus sem comprometimento será alvo de vitupério. Este é o vitupério de Cristo.
Mas há uma segunda vertente disto: Uma profunda alegria no coração. E eu não estou a falar teoricamente. Todos podem experimentar isto na prática ao seguir o Senhor Jesus.
Não se trata de um tipo qualquer de vitupério, trata-se do vitupério de Cristo. Hebreus 13 diz “levando o seu vitupério”.
Os apóstolos, conforme o descrito em Actos, estavam felizes ao sofrer o vitupério pelo Senhor Jesus. Estas são as duas grandes consequências de seguir o Senhor Jesus. Talvez a razão pela qual temos tão pouca alegria nas nossas vidas cristãs é porque não seguimos ao Senhor Jesus incondicionalmente.
As ovelhas seguem-no porque conhecem a Sua voz. Elas não seguem um estranho porque elas têm ouvido a voz do estranho durante muito tempo e concluíram que que é uma voz má. Há quem diga que a Bíblia nos diz para examinarmos os ensinos das vozes que ouvimos, mas não é isso que a Bíblia diz. A razão pela qual as ovelhas não seguem o estranho é porque não conhecem a sua voz.
Não é necessário que examinemos todos os erros na Cristandade. Um navio estava a entrar no porto, e era uma entrada muito difícil, por causa das muitas rochas que estavam debaixo da água. Um passageiro foi à ponte e disse ao Capitão: “Eu sei que conhece cada rocha desta parte do mar. É assim que vai conseguir entrar no porto em segurança.” Mas o capitão respondeu: “Eu não conheço nenhuma das rochas, mas eu conheço o caminho onde não há nenhumas rochas. É por esse caminho que irei.”
Nós também conhecemos o caminho onde não há rochas, e esse caminho é o de seguir o Senhor Jesus sem comprometer.
B) A segunda parábola do Bom Pastor
João 10:7-9
A partir do versículo 7 encontramos uma imagem diferente. Aí o Senhor Jesus apresenta-se a Ele mesmo como sendo a Porta, e não há salvação em mais ninguém se não n’Ele.
Queremos afirmar isto claramente: Não há salvação em mais ninguém.
“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” (Actos 4:12).
É uma coisa maravilhosa ser salvo. Eu espero que todos os que pertencem ao Senhor Jesus tenham um coração cheio de gratidão pelo facto de que ele, ou ela, não morrerão. Quão terrível é saber que todos os que rejeitam a salvação irão morrer. Eles vão ser lançados fora da presença de Deus para sempre no lago de fogo. Mas aqueles que entrarem pela sua Porta vão experimentar três coisas.
Primeiro, eles vão ser salvos
Salvação é uma palavra fácil de entender. Ela inclui a alma, as circunstâncias da vida, e o dia do arrebatamento em que vamos ser transformados e os nossos corpos mudarão.
Em segundo lugar, eles vão entrar e sair
A ideia de entrar e sair é que há liberdade, movimento livre aberto na presença do Pastor, sem receios. Eu quero afirmar isto com muita certeza: É a liberdade cristã.
Eu vou dizer-vos aquilo que a liberdade cristã não é. Não é liberdade para pecar ou para viver de uma maneira mundana. Há pessoas que falam assim porque elas acham que a liberdade cristã significa uma vida sem restrições. Mas nós somos avisados, em 2 Pedro 2:19, acerca daqueles que prometem liberdade mas são, eles mesmos, escravos da corrupção.
O que é a liberdade cristã?
Ela tem 4 aspectos.
1) A primeira coisa que quero mostrar está em 2 Coríntios 3:17: “onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.”
Nós veremos a glória do Senhor com rosto desvendado. Este é o primeiro aspecto da liberdade cristã: encontrar nossa alegria no Senhor Jesus.
2) Em segundo lugar Romanos 6 fala acerca do pecado habitando em nós e diz: “Vocês eram escravos do pecado”.
Sim, nós estávamos debaixo do poder do pecado antes da nossa conversão, mas a liberdade cristã significa queagora não temos que pecar mais.
O mesmo capítulo afirma: “E tendo sido libertados do pecado,…” (Romanos 6:17-18)
Sabemos da Bíblia, e da amarga experiência, que, como crentes, ainda somos capazes de pecar, mas a liberdade cristã significa que não precisamos mais pecar. Isto é uma tremenda liberdade.
3) Em terceiro lugar, lemos em Romanos 8:21; “a liberdade da glória dos filhos de Deus.”
Ainda não alcançámos a glória, mas temos a liberdade para gozar a glória de Cristo.
Quero explicar isto. Se alguma vez planearam visitar um amigo numa outra cidade, não podem simplesmente aparecer sem avisar, porque esse amigo pode não estar em casa ou mesmo estar ocupado. É preciso telefonar primeiro e perguntar se é possível aparecer.
Ainda assim, quando as crianças vão para casa elas não precisam telefonar aos pais primeiro e fazer quaisquer preparativos – elas simplesmente vão. Esta é a liberdade dos filhos de Deus, e este é o assunto de Romanos 8.
A liberdade dos filhos de Deus é ser capaz de ir à presença de Deus Pai. O Espirito Santo testifica que somos filhos de Deus, e nós recebemos o espírito de filhos quando dizemos “Abba, Pai”.
Eu espero que todos façamos uma utilização diligente desta liberdade, sendo sempre capazes de entrar na presença do Pai. Aí podemos fazer conhecidos todos os nossos pedidos. Tenho experimentado isto com os meus próprios filhos. De tempos a tempo, uma das crianças vem ao meu gabinete, e normalmete ele ou ela querem pedir alguma coisa. Mas às vezes, entram mesmo que não queiram pedir nada. Elas apenas querem estar algum tempo comigo.
Já experimentaram isto? Estar de joelhos diante do Pai e ter feito conhecidos todos os vossos pedidos, e depois apenas querer estar na Sua presença mais um pouco? Esta é a liberdade dos filhos de Deus.
4) A quarta passagem está em 1 Pedro 5, que fala dos presbíteros em geral. Eles devem “servir voluntariamente”. (v2)
Quero tornar uma coisa muito explícita aqui: O Senhor Jesus não força ninguém a trabalhar para Ele. Ele apenas usa aqueles que querem trabalhar voluntariamente para Ele.
Servir ao Senhor é uma questão de livre vontade. É a livre vontade dos crentes servirem-nO. Mas isso não quer dizer que eles são independentes, O nosso problema é que nós pensamos que estar obrigado é ser “dependência” e estar de livre vontade é “independência”.
Mas se olharmos para o Senhor Jesus verificamos que em João 17 Ele diz “Eu vim do Pai” (essa foi a Sua vontade) e, depois, “o Pai me enviou” (isso é dependência perfeita).
Isto também é verdade no que diz respeito ao Ministério Cristão, tem que ser desenvolvido de livre vontade e em total dependência. Isto é a ovelha a entrar e sair da presença do Pastor.
Terceiro, eles encontrarão sustento
A terceira coisa dita nesta segunda parábola é que encontraremos sustento; sustento para o nosso intelecto e para o nosso coração.
Gostava de dirigir uma palavra àqueles a quem o Senhor usa no Ministério da Sua palavra. O Propósito da pregação da Palavra não é dizer muitas coisas interessantes, mas apresentar a pessoa do Senhor Jesus aos corações e consciências daqueles que ouvem. Este é o genuíno alimento para as suas almas.
O Senhor Jesus Cristo é o Bom Pastor
João 10:10-18
Gostaria agora de dizer algumas palavras sobre estes versículos. Antes disso, lembro-me do dia em que fiquei noivo há 30 anos. Fui a joalherias com a minha noiva, e disse ao joalheiro: “queremos comprar duas alianças de casamento.” O joalheiro pegou num tecido escuro e colocou-o em cima da mesa, e depois dispôs os anéis no tecido de modo a que eles pareciam muito mais brilhantes. O joalheiro trabalhou usando o contraste. É exactamente isso que o Senhor Jesus faz aqui. Se não conseguirmos ver isto não conseguiremos compreender estes versículos.
Ele usa um contexto muito escuro aqui, referindo-se a um ladrão que mata e rouba (v. 10), e sobre este fundo escuro de ódio Ele mostra o Seu maravilhoso amor que Ele mesmo provou ao dar a Sua vida no Calvário (v. 11).
Esta é a primeira grande característica do Bom Pastor: Ele ama-nos com amor até a morte.
Então Ele mostra-nos outro fundo escuro, falando do mercenário (vv. 12-13). Este é um homem que apascenta o rebanho por dinheiro e foge quando há perigo.
Sabe o que é isso? Isso é infidelidade. É contra esse pano de fundo que o Senhor apresenta a Sua fidelidade, uma fidelidade até a morte (vv. 14-15).
Estas são as duas grandes características do Bom Pastor – Ele ama-nos e permanece fiel.
Agora chegamos ao importante versículo 16. Lá o Senhor Jesus diz: “e tenho outras ovelhas que não são deste aprisco”.
Eu estou muito feliz com isto. Estas são as ovelhas provenientes das nações à volta do mundo.
Então Ele diz uma frase maravilhosa: “Eu também tenho que as trazer”.
Agora ele não conduz este rebanho a um novo aprisco. É verdade que existe um muro ao redor dos crentes (se pensarmos na assembléia como uma cidade, como lemos de um grande e alto muro, Apocalipse 21:12), mas este muro não está lá para manter os crentes juntos.
O muro está lá para impedir que o mal entre, ou, se houver mal dentro, para o manter fora quando for posto fora. Mas nunca tem o objectivo de nos manter juntos.
Então, o que é que mantém os crentes juntos?
É o poder de atração do Pastor que nos mantém juntos.
Isto leva-nos aos versículos 17 e 18. À medida que somos atraídos pelo Pastor e nos achegamos cada vez mais a Ele, chegaremos a entender que Ele é o Filho do Pai, o Filho do Seu amor.
Aqui o Senhor Jesus diz: “Tal como o meu Pai me amou”. Neste contexto, Ele apresenta esta maior verdade, que Ele entregou a Sua vida em Divino poder e que Ele ressuscitou dos mortos em Divino poder. Ele recebeu em mandamento do Seu Pai, e Ele cumprio-o na perfeição.
Nós temos o privilégio de pertencer ao rebanho do Senhor Jesus. O Bom Pastor está no centro e Ele é Filho do Pai.
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Os textos entre «...» são tirados da Bíblia, a Palavra de Deus.